Governador do Rio Grande do Sul, Eduardo Leite, liderança nacional do PSDB, deve ser afastado da presidência do partido
O afastamento do governador do Rio Grande do Sul, Eduardo Leite, da liderança nacional do PSDB, decretado na noite da segunda-feira (11/9) pela 13ª Vara Cível de Brasília, abriu uma nova crise na sigla. A decisão da juíza Thaís Araújo Correia, da 13ª Vara Cível de Brasília determinou a anulação de todas as decisões tomadas por ele desde fevereiro deste ano, quando ele foi reconduzido como presidente nacional do partido, o que a justiça considerou irregular.
De acordo com a decisão judicial, Leite terá 30 dias para convocar a eleição de uma nova Executiva. A Comissão Executiva, formada em fevereiro, deve ser dissolvida com a realização de uma convenção.
Além de Leite, os outros dois únicos governadores da legenda, Raquel Lyra, em Pernambuco, e Eduardo Riedel, no Mato Grosso do Sul, que são atualmente vice-presidentes na Executiva, deverão também deixar os postos.
A ação judicial foi motivada pela discordância do prefeito de São Bernardo do Campo, Orlando Morando, que alega que Leite deveria ter deixado a presidência do partido em 31 de maio, data prevista para o fim do mandato partidário.
Segundo o líder do partido no Senado, senador Izalci Lucas (DF), a decisão em nada altera a dinâmica eleitoral já prevista pela legenda. "Eu vejo essa notícia como fake news, porque na prática é uma decisão de primeiro grau, ainda cabe recurso, e já estamos em processo de eleição. Nós já elegemos há 15 dias atrás delegados em todos os municípios do Brasil onde tem o PSDB, inclusive aqui no DF. Temos um calendário eleitoral, agora no início de outubro, começa as eleições nos estados, se elege os delegados nacionais e aí você elege a executiva nacional", disse Izalci ao Correio Braziliense.
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O deputado Aécio Neves (MG), reforçou a posição da legenda. "Essa decisão da Justiça em primeiro grau é, na verdade, inócua. O que busca a magistrada é exatamente aquilo que o PSDB já está programando fazer: as convenções que ocorrerão agora no mês de novembro", disse o parlamentar em nota.
Sem liderança no Senado
A situação do partido deve se agravar ainda mais. Rumores apontam que a governadora de Pernambuco, Raquel Lyra, é outra que deve deixar a legenda em breve. Soube-se, ainda, que o senador Izalci também teria recebido convites para deixar a legenda.
Outro capítulo da crise tucana ocorre em 22 de setembro, quando o partido deve perder o direito ao gabinete de liderança no Senado Federal. Como o Senado estabelece que apenas partidos com no mínimo 3 senadores têm direito a essa representação, que inclui cerca de outros 20 cargos de assessoramento, o PSDB, que conta hoje com apenas dois senadores — Izalci e Plínio Valério (AM) — deve perder o espaço.
O líder no Senado, Izalci, garante que o partido conseguirá entre o dia 15 e 20 deste mês recompor a bancada mínima de três senadores na Casa, e assim não perder o gabinete da liderança, mas não revelou com quem está conversando.
"Isso é igual a contrato de jogador de futebol, você não pode anunciar, se não vai outro e faz uma oferta melhor. Mas as perspectivas são boas, estamos trabalhando, conversando, existe a possibilidade de vinda de mais senadores para o PSDB. Pelo menos um vem tranquilo", disse o parlamentar.
No início do ano a legenda contava com quatro senadores, mas com a saída da senadora Mara Gabrilli (SP), que migrou para o PSD, e de Alessandro Vieira (SE), que em junho partiu para o MDB, o partido perderá a liderança se não trouxer outro parlamentar para a legenda até a data máxima estabelecida. A perda dessa sala, bem em frente ao plenário e ocupada pelos tucanos desde 1988, é, em parte, atribuída à incapacidade de articulação do atual presidente do partido, Eduardo Leite.
O gaúcho chegou a participar da negociação para trazer o senador Styvenson Valentim (Podemos-RN), segundo fontes do partido que falaram reservadamente com o Correio Braziliense, mas as condições do senador potiguar envolviam cargos para aliados políticos, em especial na prefeitura de Natal, mesmo com o partido tendo perdido o prefeito que, no ano passado, migrou para o Republicanos — condições que não teriam sido sinalizadas de forma positiva por Leite.
Mesmo com declarações públicas de apoio a Leite, e responsabilização de Doria pelo declínio da legenda, a insatisfação com Leite no comando aparece reservadamente na fala de diversos assessores, que atribuem ao gaúcho uma fatia de responsabilidade na crise no partido.
A crise do PSDB
No domingo, em função das inundações e enchentes no Rio Grande do Sul (RS), Eduardo Leite recebeu o presidente da República em exercício, Geraldo Alckmin, com quem sobrevoou as áreas atingidas pelas chuvas. Mas Leite não demonstrou muito entusiasmo com o ex-correligionário que o visitava com a missão de levar a ajuda do governo federal para a situação de calamidade no estado do tucano.
Hoje no PSB, Alckmin foi fundador do PSDB e esteve no comando do partido até que a legenda passou a ser dirigida por quadros mais jovens. A crise, encabeçada pelo ex-governador de São Paulo, João Doria, foi considerada uma traição do pupilo contra Alckmin e outros quadros históricos entre os tucanos, conhecidos como os "cabeças brancas".
O PSDB, que chegou a ser um dos maiores partidos do país e alternou o comando da política nacional com o PT, vive em uma crise de representatividade após ir ao segundo turno em 2014, com o atual deputado Aécio Neves (MG), e perder para a presidente Dilma Rousseff.
Nas eleições de 2018, com o ainda tucano Geraldo Alckmin como candidato, o partido teve o pior desempenho dos últimos 30 anos, não foi para o segundo turno e os tucanos, que rivalizaram por três décadas com o PT como uma das principais forças nas disputas pelo Planalto, viram a influência da legenda despencar.
Já em 2022, a legenda sequer conseguiu apresentar um candidato próprio, escolhendo a senadora Mara Gabrilli para compor a chapa como vice de Simone Tebet — após uma disputa fratricida entre Leite e o governador de São Paulo, João Dória.
A última eleição marcou o agravamento da crise tucana com o partido perdendo para o Republicanos de Tarcísio de Freitas, depois de 28 anos no comando do governo do estado de São Paulo, até então considerado o principal feudo do tucanato.
Fonte: Jornal Estado de Minas